O segundo ano da pandemia de Covid-19 trouxe novos desafios e aprendizados para as empresas e para os profissionais de Relações Públicas. Transformações que já vinham sendo observadas nos padrões do consumo foram intensificadas em 2021, e novas tendências de RP se tornaram mais delineadas.
Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), o Brasil registrou um aumento de 400% ao mês no número de lojas que passaram a atuar no formato de e-commerce em 2020. Com o isolamento social imposto pelo coronavírus, os consumidores passaram a optar cada vez mais pelas compras online – e esse movimento permanece mesmo com a melhora dos números da pandemia.
Com tantas opções disponíveis a um clique de distância, o público ficou mais exigente na hora da compra, passando a avaliar não só fatores como preço e qualidade do produto ou serviço, mas também a reputação da empresa e seu posicionamento em relação a questões como diversidade e meio ambiente. O papel das relações públicas, nesse contexto, se tornou mais relevante do que nunca.
Separamos a seguir as quatro principais tendências de RP em 2021 para ajudar a levar sua marca para um novo patamar na comunicação.
Abraçando causas de maneira genuína
A importância de as marcas se posicionarem sobre causas importantes não é novidade quando se fala em tendências de RP. Mas a crise global trazida pela pandemia acelerou intensamente esse movimento. Cada vez mais pessoas acreditam que atuar em prol da comunidade é uma obrigação das empresas. Silenciar sobre causas importantes deixou de significar prudência e passou a indicar omissão ou conivência com situações prejudiciais.
De acordo com o estudo Global Marketing Trends 2021, da Deloitte, empresas que atuam com um propósito costumam obter mais relevância e lealdade do público, e crescem em média três vezes mais rápido do que a concorrência. Os dados revelam, ainda, que 80% das pessoas estão até mesmo dispostas a pagar mais caro por uma marca que se mostre ambientalmente e socialmente responsável.
Além disso, a preocupação com a Governança Ambiental, Social e Corporativa (conhecida pela sigla ESG) nunca esteve tão em alta. Estudos mostram que as empresas que adotam boas práticas nesses campos podem aumentar sua lucratividade e ganhar mais valor de mercado no longo prazo.
Para isso, a área de relações públicas exerce um papel crucial ao ajudar a desenhar e executar esse posicionamento de uma forma clara e que se converse de maneira genuína para o público.
RP guiado por dados
O uso de dados para guiar decisões de negócios já estava em evidência nos últimos anos, mas ganhou um novo aspecto em Relações Públicas. Com o aumento do investimento no digital, a tendência é que a área de RP possa contar com cada vez mais insumos para alimentar suas estratégias.
A abundância de dados disponíveis ajudará a criar ações mais assertivas e melhores resultados. Mas sua utilidade vai além. O big data pode dar origem a histórias para os profissionais de RP trabalharem com a imprensa, gerando informações ricas e de interesse público.
Para fazer bom uso dessa tendência de RP, é preciso que o profissional se mantenha atualizado e invista no desenvolvimento de novas competências digitais que lhe permitam aprender a manejar e ler os dados. Conhecer bem a legislação ligada à privacidade da informação, como a LGPD, é fundamental. Conhecimento em estatística também pode ser útil.
A hora e a vez dos micro influenciadores
Não há mais dúvidas de que o marketing de influência veio para ficar. De acordo com a Business Insider, esse mercado deverá movimentar mais de US$ 10 bilhões no mundo em 2021, e poderá atingir US$ 15 bilhões no próximo ano.
Mas, conforme o setor amadurece, a tendência é que os investimentos das marcas se tornem cada vez mais cuidadosos. Nesse contexto, a taxa de engajamento dos influenciadores passa a ser de maior importância do que o número de seguidores. E é aí que entram em cena os micro influenciadores (com perfis que têm entre 10 e 100 mil seguidores) e os nano influenciadores (com pelo menos mil seguidores).
Embora atinjam um público menor, esses perfis muitas vezes apresentam resultados mais significativos para as empresas, pois têm um contato mais próximo e uma conexão maior com seu público. Além disso, perfis altamente especializados (influenciadores sneakerheads ou praticantes de determinado esporte, por exemplo) permitem às marcas uma estratégia muito mais assertiva junto ao seu público.
Os profissionais interessados em aderir a essa tendência de RP podem começar monitorando os seguidores das marcas com as quais estão trabalhando. Pode ser que elas já tenham alguns micro influenciadores promovendo a marca, mas que ainda não foram notados. Acioná-los para propor parcerias pode render bons resultados.
Brandcasting
Para concluir a lista de tendências em Relações Públicas, o brandcasting não pode ficar de fora. Se as marcas estão se posicionando e se conectando mais genuinamente com seu público ao abraçar causas de importância coletiva, é natural que elas próprias se tornem influenciadores digitais, ou brandcasters.
Assim, investir em conteúdo próprio de qualidade, nos mais diversos formatos e canais, e posicionar-se como referência e porta-voz do setor são estratégias que vêm gerando bons resultados.
Em um artigo apresentado no XV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (2021), os pesquisadores João Francisco Raposo e Carolina Frazon Terra, da USP, resumiram bem a importância do brandcasting: “Construindo um capital de confiança e compromisso com seus públicos, por meio da transmissão de conteúdos que podem incluir pautas sociais e urgentes do planeta e da sociedade, elas se tornam capazes de impactar, convencer, influir e também colaborar em um contexto no qual também estão inseridas”.
A prática, segundo os autores, é uma “atividade que complementa o trabalho de reputação das organizações, quando ele está aliado a um compromisso, à relevância e a ações que vão além do discurso superficial e generalista”.