*Por Beatriz Lobo
A pandemia do coronavírus coloca em evidência a crescente crise de saúde mental que o Brasil vem enfrentando. Mesmo antes, já éramos o país com a maior taxa de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um levantamento recente realizado pela Ipsos (Tracking the Coronavirus) demonstrou que o país encontra-se na primeira posição em relação à ansiedade, quando comparado a outros países como Espanha, Austrália, Estados Unidos e África do Sul.
Vivemos em um contexto social em que a distribuição massiva de vacinas ainda está longe de apresentar resultados efetivos, em que os índices de desemprego são alarmantes, em que políticas públicas jogam em favor do vírus. Em uma inconsciência de que a saúde mental não é individual, mas é coletiva e política. Além disso, há a necessidade de distanciamento social e as crescentes incertezas quanto ao futuro, fatores cruciais para o aumento da epidemia de ansiedade e depressão e a consequente demanda por atendimentos em saúde mental.
Estamos todos fragilizados, enfrentamos uma crise sanitária, política e econômica, as dificuldades são coletivas. E nesse sentido, no âmbito clínico, as queixas são recorrentes, uma vez que esse é o contexto que fundamenta as crises que se dão no eixo individual, como a depressão, a ansiedade, o abuso de substâncias, os conflitos familiares, conjugais.
E nesse momento, se faz cada vez mais necessário o apoio e o trabalho de profissionais da saúde mental. E mesmo depois, após a pandemia, as marcas que ela deixará irão nos conduzir a uma grande necessidade de cuidado com a mente e com nossos sentimentos. Iremos precisar, enquanto população, dos profissionais que hoje estão na graduação e que entrarão no mercado de trabalho, visto a crescente demanda por atendimentos nesta área, o que revela também um espaço para o desenvolvimento de espaços profissionais – públicos e privados.
Como uma forma de possibilitar o “esperançar”, verbo ensinado pelo educador Paulo Freire, que completa seu centenário nesse ano de 2021, a formação de profissionais da saúde mental parece ser a construção de alternativas nesse cenário difícil. São tempos de construção de saberes e de novas formas de viver e, para isso, necessitamos de uma educação que possibilite a construção do novo mundo que se apresenta.
*Beatriz Lobo, Psicóloga, Mestre em Cognição Humana e professora de Psicologia da Estácio.