*Por José Carlos Nascimento
Em 2020, tivemos que mudar tudo e muito rápido. No mundo corporativo, em poucos dias, o coronavírus obrigou os escritórios a ficarem vazios e milhares de pessoas passaram a trabalhar de casa. Tudo isso, com pouco ou nenhum planejamento. A verdade é que o home office estava longe de ser uma prática comum no Brasil, seja por questões relacionadas à infraestrutura ou culturais.
Após mais de um ano de pandemia, as incertezas são muitas, mas uma coisa já sabemos, o teletrabalho veio para ficar. Segundo um estudo da FGV, a tendência é que esse modelo cresça 30% após o fim da crise, e com ele o desafio de encarar uma nova forma de gerenciar pessoas. O isolamento impulsionou uma mudança significativa no mundo corporativo e ainda estamos aprendendo ao longo do processo, mas já podemos tirar algumas lições.
A primeira é uma mudança cultural importante. Cultura, em última análise, é a representação da nossa forma de viver e o home office impulsionado pela pandemia inaugurou uma nova cultura organizacional e consequentemente um enorme desafio. Criar e manter um ambiente de colaboração e acolhimento quando a convivência e as trocas se dão somente no virtual é um exercício que exige ainda mais engajamento das lideranças. Para isso, é importante estimular o comando pelo exemplo, em que a conquista da confiança e o engajamento do colaborador acontece por meio da aplicação prática dos valores da companhia.
As ações de quem lidera serão determinantes para o que todos sintam-se parte da organização. As empresas são feitas de pessoas e nesse momento tão delicado o papel integrador do líder é fundamental. Mas para isso, ele também precisa estar engajado e motivado. Trabalhe, em conjunto com este líder, os caminhos para desenvolver a sua carreira e suas habilidades de gestão, por meio de cursos, mentorias e ações criadas com esse objetivo (reuniões recorrentes e ou comitês). Aqui vale um alerta: desenvolvimento não é igual para todo mundo e cada um tem o seu tempo e desafios a serem vencidos. É preciso entender e respeitar o ritmo de cada indivíduo.
Outro aprendizado que tivemos neste período e que já devia ser um mantra: a segurança do colaborador vem em primeiro lugar. Aprendemos que a integridade física e mental dos nossos profissionais é vital para a continuidade dos negócios. É imprescindível cuidar da segurança psicológica das pessoas, pois como estamos trabalhando de casa, aumenta a necessidade da empresa se comunicar com os colaboradores, dar segurança e acolhimento.
Protegendo o colaborador, estamos garantindo que ele esteja bem para atender o cliente e desempenhar suas atividades. Parece simples, mas na prática exige colocar de fato as pessoas no centro de tudo. Somente uma estratégia pensada a partir da ótica do funcionário é capaz de criar nele a percepção de que a empresa está se esforçando para cuidar da sua saúde e engajá-lo neste mesmo propósito.
Vimos, como nunca antes, “vida pessoal” e a “vida profissional” misturadas, o escritório foi para dentro da casa do colaborador e por sua vez, a casa do colaborador entrou dentro escritório em diversas situações. Afinal, um pai ou uma mãe podem precisar interromper uma reunião para atender um filho, que acorda chorando após uma soneca no meio da tarde, não é mesmo?
Foi preciso empatia para liderar pessoas, enquanto os lares estão em pleno funcionamento. Também foi necessário acolher e dar suporte para quem teve dificuldades de adaptação, seja porque não tem estrutura em casa, ou tem filho pequeno ou porque simplesmente é uma pessoa muito sociável.
Por último, mas não menos importante, com o isolamento social, ficou ainda mais evidente o quanto a comunicação e colaboração são fundamentais nos momentos de crise. Por mais que estejamos distantes fisicamente, nunca estivemos tão conectados e isso impacta na forma das pessoas se relacionarem. Nesse contexto, repensar a comunicação interna e diversificar os canais e conteúdo para estimular em todos o senso de ajuda mútua e de pertencimento é fundamental.
A pandemia vai passar, mas deixará o home office como legado. Cabe às empresas aproveitarem os pontos positivos que o modelo traz e se adaptarem à nova realidade e a nova forma de fazer gestão de pessoas, que esse novo momento inaugurou. O futuro das empresas e a vida dos seus colaboradores dependem disso.
*Por José Carlos Nascimento, diretor de RH da ao³