*Por Por Fernando Cadore
Há pouco mais de 150 anos era inaugurada a primeira Ferrovia Transcontinental. Cortando os Estados Unidos de lado a lado e integrando o Pacífico ao Atlântico, ela é considerada, ainda hoje, uma das maiores obras de engenharia do mundo. Sem sombra de dúvidas a ferrovia transcontinental foi o impulso que a economia americana precisava para se tornar rapidamente a maior do mundo.
É curioso pensar que se na época da construção dessa ferrovia os líderes daquele país passassem a divergir sobre qual trecho ficaria pronto primeiro, se o que partia do oceano atlântico ou do oceano pacífico, seguramente a história estaria sendo contada de outra forma. Ora, aquele não seria um grande feito se as linhas não tivessem se encontrado em Utah e efetivamente interligado os extremos. Uma queda de braço nesse sentido poderia transformar a proeza de um país no devaneio de um homem, Abraham Lincoln. Certamente o grande ato de heroísmo de Lincoln foi unificar o país em torno desse sonho. E o sucesso do plano ainda pode ser visto através da histórica foto do encontro das linhas férreas em Promontory.
Dadas as devidas proporções e respeitado o contexto histórico que cerca a evolução social e econômica dos dois países, podemos dizer que hoje vivemos aquele sonho americano aqui em Mato Grosso.
Já temos uma ferrovia em operação ligando o porto de Santos a Rondonópolis, e que tem demonstrado inequívoca viabilidade econômica para se estender até o médio-norte do estado. A Ferronorte pode vir a atender a Baixada Cuiabana e levar desenvolvimento para municípios atualmente carentes de infraestrutura. O grande limitante nesse momento é o processo burocrático, mas este entrave pode ser solucionado pela aprovação de um projeto de lei que tramita no Senado Federal, o PLS 261/2018.
Do outro lado, a Ferrovia de Integração Centro Oeste – FICO ligando Água Boa, município da região Leste de Mato Grosso a Mara Rosa, cidade do estado de Goiás, levará a produção mato-grossense a ser escoada pela Ferrovia Norte Sul, traçado que já possui projeto básico e licença ambiental de instalação – LI, e que tem o início das obras previsto para abril deste ano.
Por último, e igualmente importante, está a linha que foi batizada com o nome de Ferrogrão, que ligará Sinop em Mato Grosso a Miritituba no estado do Pará. Um dos grandes diferenciais desta ferrovia será o baixo consumo energético, haja vista a diferença de altitude de partida e chegada, 384m e 18m, respectivamente. O traçado da ferrovia margeia a BR 163, e é considerado de baixíssimo impacto ambiental, além de ter uma oferta de carga que não deixa dúvida quanto a sua viabilidade.
Mas qual a relação entre esses trechos de ferrovia e a história inspiradora da Ferrovia Transcontinental? A crucial necessidade de convergência. Somente com a união de esforços daqueles que podem imprimir alguma influência positiva para vencer todas as barreiras burocráticas é que seremos capazes de transformar o sonho em realidade e não em disparate. Cada uma dessas linhas ferroviários representarão um salto de qualidade em nossa infraestrutura logística, todavia, conectadas elas traduzem a ruptura de um ciclo de “quase” avanços que se arrasta por décadas. Não deve haver trecho prioritário, mas sim prioridade de ação. A história está sendo escrita, portanto, que façamos juntos a história que queremos contar, pois nesta locomotiva não somos passageiros, mas tripulantes.
*Fernando Cadore é engenheiro agrônomo, produtor rural e presidente da Aprosoja Mato Grosso.