*Por Gustavo de Oliveira
Quem assistiu na infância ao belíssimo ‘2001 – Uma Odisseia no Espaço’ ficou para sempre marcado pela ânsia de inovar. Hoje, 20 anos após aquele futuro imaginado em 1968, fazer uma videochamada pelo celular para qualquer lugar do planeta é um avanço sem precedentes para quem já viveu em um mundo onde até os telefones fixos eram luxo.
A inovação tecnológica cresce de forma exponencial. Nos próximos 10 anos, nosso salto terá sido muito maior do que foi nos últimos 20. E a evolução de processos é especialmente palpável na indústria, que passa pelo quarto ciclo de evolução, marcado pela conectividade, inteligência artificial, acompanhamento e controle em tempo real, novos arranjos, novas competências, novas relações de trabalho.
Mas como falar em inteligência artificial em um estado como Mato Grosso, onde a indústria ainda enfrenta desafios muito básicos, como falta de rodovias e ferrovias, energia cara, frete proibitivo?
Precisamos focar na agenda crítica da industrialização de Mato Grosso, que inclui as grandes obras para a competitividade da nossa logística e a redução do custo da energia. Mas inclui também a adoção dos princípios da sustentabilidade em todos os seus aspectos: social, ambiental e econômico, agora ampliado para governança, o ESG.
O consumidor do futuro é o jovem de agora. Em 10 anos, a maior parte do poder de compra no país estará concentrada nas mãos dos millenials e da Geração Z, um público que busca não apenas qualidade e preço, mas também engajamento, pertencimento e identificação com o propósito das marcas que consome. É uma realidade iminente, para a qual nossas indústrias devem se preparar.
Precisamos partir do que temos de positivo. O primeiro ponto: uma indústria que começa agora já é nativa digital. Todos os novos empreendimentos já podem ser concebidos nos moldes da indústria 4.0, sem ter que se adaptar para isso. A indústria mato-grossense tem tudo para ser como a Geração Z, ainda que com sotaque do campo, pois esse é o nosso sotaque. E esse é o segundo ponto: a abundância de matéria-prima, dada nossa vocação agro, que orienta nosso principal foco para a agroindústria.
Qual cenário de futuro queremos? E como vamos atuar agora para chegarmos a esse cenário ideal? Precisamos compreender os grandes movimentos e definir se queremos que Mato Grosso paute a agenda crítica para o próprio desenvolvimento ou corra atrás da agenda de terceiros.
A presença da indústria mato-grossense no contexto nacional quase dobrou em dez anos. Tivemos o sétimo maior crescimento na participação industrial no país. Mais ainda nos falta um modelo nacional de desenvolvimento claro e alinhado.
O Brasil tributa os investimentos industriais, tributa o emprego, tributa violentamente quem produz, ao mesmo tempo em que desonera exportações, permite o subemprego sem garantias e facilita a entrada de produtos estrangeiros, como o etanol americano. Enfrentamos entraves históricos para o crescimento industrial. E Mato Grosso sofre muito mais, pelo mercado interno reduzido, a distância dos grandes centros, logística ineficiente e cara, alto custo da energia.
Um setor que contribui com 39% da arrecadação de tributos merece mais atenção. Geramos 15,8% do PIB e 17,2% dos postos de trabalho – portanto, temos espaço para crescer e levar Mato Grosso a um novo patamar de desenvolvimento econômico e social, com inovação, conservação ambiental, energias limpas, tecnologias sustentáveis, mais trabalho, renda e, consequentemente, mais recursos para melhorar os serviços públicos, como saúde, educação e segurança.
O futuro ainda não existe. Nós é que precisamos definir aonde queremos chegar, planejar o caminho e executar o plano. E a indústria de Mato Grosso está a postos para transformar nossas grandes oportunidades em realizações concretas.
*Gustavo de Oliveira é presidente do Sistema Fiemt