Com três biomas – Amazônia, Pantanal e Cerrado – e polos de exuberante beleza, Mato Grosso tem potenciais únicos para fazer do turismo sustentável um eixo de desenvolvimento, gerando emprego e renda com uma atividade econômica diversificada e inclusiva.
Iniciado em 2019, o programa Turismo Sustentável entra em sua segunda fase. A iniciativa é fruto de uma cooperação entre a Parceria para Ação pela Economia Verde (PAGE), por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Matogrosso (SEDEC), por meio da Secretaria Adjunta de Turismo; e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Mato Grosso (Sebrae MT).
Em 2021, o projeto coloca em prática as estratégias e prioridades identificadas na primeira fase e que constam no “Manual de Diretrizes para Normalização e Certificação de Turismo Sustentável” e na “Cartilha de Diretrizes de Incentivos para Políticas Públicas em Turismo Sustentável no Estado de Mato Grosso”, a partir da realização de workshops de capacitação e da implementação de projetos pilotos que já começam a ser aplicados a 12 empresas locais.
Para a Oficial Sênior de Programas do PNUMA, Regina Cavani, as publicações produzidas em 2020 são ferramentas que apoiam a transformação sustentável do turismo do Mato Grosso, com o estímulo à criação de empregos verdes e decentes e a redução da pobreza.
“Esperamos que essa iniciativa contribua para fortalecer capacidades e preparar essas empresas do segmento de turismo para adoção de práticas do turismo sustentável, visando também a possibilidade de atuarem como multiplicadoras de resultados na região, para motivar a inclusão de comunidades que ainda não estão participando ativamente de uma cadeia sustentável”.
Eduardo Chiletto, coordenador estadual da PAGE, reforça que o turismo é um setor fundamental para Mato Grosso implementar os ODS em todo o território: “Eles (os ODS) só serão alcançados com a participação de toda a sociedade, principalmente dos gestores públicos em parceria com setores da indústria, comércio e serviço. E de maneira localizada – em todos os municípios do nosso Estado”.
Chiletto destaca ainda que o Estado possui quatro polos de belezas naturais: a Floresta Amazônica com diversidade de fauna e flora; o Pantanal, maior planície alagável do planeta, com uma das maiores biodiversidades do mundo; o Cerrado com chapadões, grutas e cachoeiras; e a região do Araguaia, onde também se encontram cachoeiras, a Serra do Roncador e as praias de água doce dos rios da região.
“Esses polos possuem um rico patrimônio histórico e cultural e uma diversidade gastronomia cuja principal base é o peixe, acompanhado dos sabores, frutos e temperos da terra”, explica, enfatizando ainda a forte vocação do Estado para o turismo de natureza, segmento que representa 16,6% das viagens realizadas no país, segundo a Embratur (2018).
Para o turismólogo Diego Augusto Orsini Beserra, analista de Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria Adjunta de Turismo, o Programa Turismo Sustentável é uma iniciativa muito importante para Mato Grosso, cujo foco maior é o ecoturismo e turismo de natureza, desenvolvido em ambientes mais frágeis como Nobres, na região do Pantanal. Lembra ainda que o turismo sustentável pode ser usado como um ativo e um apelo para atrair turistas cada vez mais conectados com experiências junto à natureza.
A diretora técnica do Sebrae MT, Eliane Chaves, reforça que Mato Grosso é um Estado com riquíssimas potencialidades para explorar o turismo como uma atividade econômica que poderá, inclusive num futuro próximo, se transformar numa das bases do PIB estadual, como uma fonte de riquezas além do agronegócio.
“Nós temos três biomas e quando toda a cadeia de turismo nesses territórios for devidamente trabalhada, é possível fazer com que os destinos turísticos, os empreendimentos, possam expressar práticas sustentáveis e se tornar um diferencial competitivo para atrair turistas nacionais e internacionais”, enfatiza a diretora.
Segundo ela, esse trabalho é para mostrar que o pequeno negócio dará sua contribuição ao introduzir a sustentabilidade no eixo da sua estratégia e nas suas práticas de gestão. “Isso traz vantagens enormes para os pequenos negócios porque mostra a consciência de que da sustentabilidade de sua atividade depende da sustentabilidade do seu território”.
O trabalho começa com os pequenos negócios, mas abrange toda a governança, os gestores públicos, as instituições que fazem parte do desenvolvimento da atividade do turismo no Estado. “Estamos contribuindo com os ODS, trazendo a sustentabilidade para dentro das pequenas empresas e fazendo com que MT se projete como um destino turístico sustentável”, conclui.
Efeitos da pandemia e atual cenário
A crise desencadeada pela pandemia de COVID-19 segue impactando severamente as empresas de turismo, principalmente as de pequeno e médio porte. Segundo dados disponibilizados pela Organização Mundial de Turismo (OMT), o setor enfrentou uma queda aproximada de 58% a 78% na receita, considerando o âmbito internacional durante 2020, e pode ter de 100 a 120 milhões de empregos diretos em risco.
No Brasil, do ponto de vista da geração de receita, a atividade turística soma um prejuízo de R$ 341,1 bilhões desde março de 2020, de acordo com cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O setor chegou a abril deste ano (2021) operando com aproximadamente 61,4% da sua capacidade mensal de geração de receitas.
Regina Cavini, do PNUMA, ressalta que a pandemia também sensibilizou as pessoas sobre a importância de um ambiente saudável como barreira natural para futuras pandemias, principalmente no caso de doenças zoonóticas, e alertou sobre a necessidade de repensar a forma como os bens e serviços, elementos-chave de uma economia circular, são produzidos e consumidos.
“Um meio ambiente ecologicamente equilibrado está diretamente relacionado à competitividade do setor de turismo e, em muitos lugares, os esforços de conservação dependem em grande parte das receitas desse setor”, afirma.
Para ela, a integração da circularidade e o avanço da eficiência dos recursos na cadeia de valor do turismo representam uma oportunidade para o setor abraçar um caminho de crescimento sustentável e resiliente.
Eduardo Chiletto salienta que o consumo responsável dos serviços turísticos também minimiza impactos negativos ambientais e socioculturais e, ao mesmo tempo, promove benefícios econômicos para as comunidades locais e do entorno dos destinos.