“Não é só um prato de comida, é uma obra que reúne e alimenta o espírito”, diz Francisco Corria ao comentar sobre a culinária mato-grossense. Nascido na Argentina e com raízes fincadas no estado há quase dez anos, Chico Parrillero, como é popularmente conhecido, encontrou na fusão da cozinha argentina com as especiarias de Mato Grosso um território fértil para produção de receitas únicas. Dessa união de saberes e sabores, o chef conquistou o Prêmio Dólmã 2020, considerado o ‘Oscar da gastronomia brasileira’.
“Esse prêmio é um esforço de várias pessoas, do apoio da minha família, dos meus amigos, das pessoas que acreditam e consomem meu serviço”, conta Chico. Concorrendo com outros dois profissionais mato-grossenses, o chef é agora o representante da culinária do estado e será responsável pela indicação dos próximos indicados.
Apesar do reconhecimento chegar em 2021, Francisco recorda com carinho toda trajetória que o levou até a conquista do prêmio. “Desde criança sempre fui apaixonado pela culinária, minha avó cozinha e sempre tivemos muito isso de cozinhar em família”, rememora.
Formando em Administração de Empresas, e com pós-graduado em Cozinha Autoral, Chico encontrou na técnica da ‘Cozinha de Fusão’ um meio de tornar possível as experimentações que pudessem unir suas raízes argentinas com os laços afetivos e de conhecimento que criou em Mato Grosso.
Ao falar sobre esse modo de pensar a culinária, o chef afirma que 90% parte da criatividade de quem se permite tentar.
“A regra das gastronomia é 90% criatividade e 10% o que você tem. Quando pensamos na técnica da Fusão, é importante conhecer o produto e estudar os produtos que você vai utilizar, e só depois partir para a tentativa. Então não é algo difícil, mas requer técnica. É como transformar um produto A em um produto B, e isso pode dar certo ou errado”, afirma.
Compartilhando comida e conhecimento
“Percebi que em Mato Grosso havia uma grande demanda reprimida de pessoas que queriam aprender a manipular a carne”, conta o chef ao falar sobre sua nova fase. Após deixar o restaurante que ajudou a criar, Francisco decidiu apostar no compartilhamento de saberes como forma de viver a gastronomia.
Diante da experiência atuando em festivais e eventos voltados para o churrasco, o chef decidiu abrir uma plataforma online chamada “Viver de Churrasco para Eventos”, onde faz a mediação de oficinas voltadas para a técnica de manipulação da carne.
Questionado sobre a relação entre a comida e o conhecimento, Chico revela uma satisfação particular em poder proporcionar momentos de aprendizado para outras pessoas.
“Para mim é uma satisfação gigante poder compartilhar conhecimento. Sempre digo que as únicas duas maneiras de juntar uma comunidade é compartilhando comida e compartilhando conhecimento”, diz.
O curso conta com cinco módulos e o participante ainda participa de encontros mensais online e outros benefícios.
“Dentro do curso consigo passar para as pessoas um pouco daquilo que eu sei, sobre a cultura do churrasco, sobre minhas raízes argentinas e a valorização dos produtos locais. Além de mostrar que isso pode ser uma fonte de renda para pessoas que precisam, entrando em uma nova área do mercado”, comenta Chico.
O futuro da gastronomia mato-grossense
Com a conquista do prêmio, Chico Parrillero carrega a responsabilidade de promover a culinária de Mato Grosso em diversos espaços, além de poder indicar novos talentos para concorrer ao prêmio.
Ao observar a cultura do estado, o chef reforça seu encanto pela hospitalidade que segundo ele rodeia todo o povo mato-grossense.
“O povo mato-grossense é muito receptivo e caloroso no que sente, você chega numa casa onde você não conhece ninguém e amanhã já estão te convidando para um churrasco. Isso é um diferencial que esse estado tem e que se reflete na gastronomia daqui”, afirma.
Para ele, além dos tradicionais pratos locais, como o peixe assado, outros elementos também podem ser exaltados como símbolos de uma identidade local.
“Não é só um prato de comida, é uma obra que reúne e alimenta o espírito. Precisamos saber aproveitar as riquezas do cerrado e levar isso a um nível internacional, mostrar que não é só o peixe que identifica Mato Grosso, temos muito mais que isso”, finaliza.